Réplica do "14 Bis" de Santos-Dumont em São Paulo, Brasil

Fotos tiradas por Walter de Castro

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ALBERTO SANTOS-DUMONT: O PAI DA AVIAÇÃO

 por Stan Griffin  
Traduzido para o português por Patricia e Walter de Castro

      Pergunte a qualquer aluno de escola americana de primeiro grau "Quem foi o primeiro homem a voar?", e é quase certo que sua resposta será: "Orville e Wilbur Wright no Kitty Hawk" (principalmente se você tiver feito a pergunta em Ohio ou na Carolina do Norte).

    Mas assim que você sai dos Estados Unidos, a chance de receber a mesma resposta diminui drasticamente. Outros nomes surgirão nos países europeus e mesmo nos da América Latina. Especialmente no Brasil, onde a maioria dos jovens dirão: "Alberto Santos-Dumont", um nome completamente desconhecido da maioria dos americanos.

    Na alvorada do século XX, contudo, muita gente achava que Santos-Dumont era a pessoa mais famosa do mundo! Ele visitou os Estados Unidos em 1904 e veio à Casa Branca para um encontro com o Presidente Theodoro Roosevelt. Ele construiu e dirigiu: diversos balões, o primeiro dirigível prático e motorizou aviões mais pesados que o ar. Ganhou um sem-número de prêmios e tornou-se amigo de milionários e da realeza.

    Alberto Santos-Dumont considerava-se francês, mas nasceu a 20 de julho de 1873 na pequena cidade de Cabangu, no Estado de Minas Gerais. Era o mais jovem de onze filhos criados numa fazenda de café em São Paulo. Seu pai era um engenheiro que fez sucesso como fazendeiro. E juntamente com o sucesso, veio a riqueza. Ele ficou conhecido como o "rei do café do Brasil".   

    Alberto se interessava por tudo que fosse mecânico. Ele dirigia vários dos tratores a vapor e locomotivas da fazenda. Leu todos os livros de Julio Verne antes de completar os dez anos e sonhava em voar durante longas tardes, enquanto fitava os céus do Brasil.

Quando Alberto tinha 17 anos, seu pai caiu de um cavalo que estava montando. Seus ferimentos tornaram-no paraplégico (paralisia completa da metade inferior do corpo, incluindo as pernas). Ele vendeu a fazenda e mudou-se para Paris, na França, com a esposa e o filho mais novo. Alberto teve que deixar a escola e, em Paris, estudou física, química, mecânica e eletricidade com um professor particular.

Não demorou muito e ele descobriu os balões. Contratou um piloto para levá-lo ao ar e aprendeu a voar. E começou até a projetá-los, voando seu "Brésil" em 1898.

Em seguida, se interessou pelos balões que se podiam dirigir (chamados dirigíveis), os quais podiam avançar no ar e não apenas se mover para onde os ventos os levassem. Por volta de 1901, Santos-Dumont conseguiu ganhar um prêmio de 100 francos por voar em seu dirigível "Número 6" através de Paris em menos de meia hora. As duas primeiras tentativas terminaram em espetaculares acidentes. Mas nem um pouco sujeito a ser desencorajado por tais resultados, Santos tentou novamente e, desta vez, com sucesso. Doou o dinheiro de seu prêmio para obras de caridade e para os voluntários que o ajudaram a preparar sua aeronave.

Ele era conhecido por "Santos" pelos amigos e associados em Paris. Ele não era de grande estatura, pesava cerca de 41 quilos e tinha 1,53m de altura. Santos com freqüência era visto com seu característico terno de risca-de-giz e seu chapéu Panamá desabado. 

As atenções desse brasileiro que "voava alto" se voltaram então para os aparelhos mais pesados que o ar. Em 1905, ele já havia projetado o seu primeiro desses equipamentos. No ano seguinte (23 de outubro de 1906) Alberto pilotou seu "14 Bis" diante de uma grande multidão de testemunhas por uma distância de 60 metros a uma altura de 1,80 a 3,00 metros.

“Este evento bem-documentado foi o primeiro vôo verificado pelo Aero-Club De France de uma máquina motorizada e mais pesada que o ar na Europa e a primeira demonstração pública no mundo de um equipamento que decolou de uma pista aérea comum com um trem de pouso não removível ... por sua própria força (auto-propelido) ... em dia de tempo calmo, resolvendo oficialmente o problema de uma máquina mais pesada que o ar que decola do chão por seus próprios meios.”

Vinte dias mais tarde, Santos-Dumont estabeleceu o “... primeiro recorde mundial em aviação ...”, voando 220 metros em menos de 22 segundos. Ambos os eventos aconteceram ANTES que os irmãos Wright fizessem quaisquer vôos PÚBLICOS.

No entanto, seu empreendimento se deu quase quatro anos DEPOIS que os irmãos Wright, de Dayton, Ohio fizeram voar sua aeronave mais pesada que o ar nas encostas da Carolina do Norte. A data foi 17 de dezembro de 1903. O piloto foi transportado pelo ar por 12 segundos e viajou a distância de 37 metros. Fizeram três outros vôos no mesmo dia, sendo o mais longo de 260 metros e tendo a nave voado por um minuto.

Seu Aparelho Voador Wright, de 1905, foi o “... primeiro aeroplano prático...capaz de voar várias milhas de uma só vez, fazer manobras rápidas e aterrissar sob total controle do piloto”.

A posição oficial do governo brasileiro, naturalmente, é a de que  Santos-Dumont deve ser considerado como o “Número Um”. Os que assim pensam citam os seguintes argumentos: 

(1) A notícia do vôo do “14 Bis” de Santos-Dumont foi antecipadamente publicada por toda Paris, e assim foi testemunhada por grandes multidões, que viram em primeira-mão o resultado do trabalho de Santos-Dumont. 

Por outro lado, os Wright tendiam a fazer seus testes em locais afastados, com apenas alguns espectadores. Havia somente cinco pessoas na Carolina do Norte presentes ao seu primeiro vôo, nenhuma delas podendo ser considerada uma “autoridade”. Orville e Wilbur Wright foram “muito rigorosos na proteção de suas propriedades intelectuais”, com medo de que outros inventores pudessem roubar suas idéias.

(2) O “14 Bis” decolou por seus próprios meios e de uma pista comum.

A  máquina dos Wright teve que ser lançada no ar do alto das dunas locais. (3) O tempo em Paris estava bom, com ventos apenas leves.

Nas encostas, por outro lado, os ventos eram de 43.5 km/h (27 mph). Na verdade, o local foi escolhido por ter ventos quase constantes. Os críticos sustentam que eles, assim, propiciaram à máquina, essa ajuda extra.

(4) O trem de pouso do “14 Bis” era “parte integrante e não destacável” da aeronave, duas qualidades que o aparelho dos Wright não tinha.

(5) Documentos e fotografias feitos pelos partidários dos Wright foram consideradas como “não confiáveis”. Relatórios de testemunhas da Carolina do Norte foram recusados como “inconsistentes”. Alguns partidários de Santos-Dumont chegaram a acusar os Wright de divulgar fotografias falsas.

Depois que eles foram informados do sucesso dos Wright na Carolina do Norte, o Aero-Club de France enviou uma carta ”exigindo” que eles viessem à França e “comprovassem seu feito”. Não houve resposta. O Club denunciou os Wright por “fraude”, como fizeram muitos da comunidade científica Européia e alguns do público em geral.

Defensores dos Wright insistiram que o Club tinha um conflito de interesse em reconhecer tão rapidamente o vôo de Santos-Dumont porque eles foram desde o início patrocinadores do aeronauta brasileiro e tinham um interesse pessoal em declará-lo “o primeiro”.

O avião de Santos-Dumont parecia “várias pipas tipo caixa reunidas ao acaso”. De acordo com um observador americano, Santos-Dumont “...não tinha meios de controlá-lo, a não ser deslocando seu peso ... o que era difícil porque o piloto ficava num estreito cesto de vime”.

Alguns partidários dos Wright quiseram fazer crer que Santos-Dumont valeu-se de seus detalhes patenteados, usando-os no período entre os dois vôos. Havia também outros progressos que poderiam ter ajudado Santos-Dumont na construção do “14 Bis”.

Em 1909 ele desenhou um monoplano que se tornou o “precursor dos aviões leves modernos”. O “Demoiselle No. 19” (apelidado de “gafanhoto”) foi vendido aos milhares na Europa, causando sensação a um preço de menos de 500 francos.

Santos-Dumont continuou construindo e pilotando aviões até 1910, quando foi diagnosticado com esclerose múltipla. Despediu toda a sua equipe, fechou sua oficina e logo entrou em um período de severa depressão. Rumores surgiram acusando-o de ser um espião alemão, fazendo com que queimasse todos os seus papéis, planos e anotações, o que tornou impossível a pesquisa dos processos utilizados em seus projetos.

Santos-Dumont voltou para o Brasil em 1916 ou 1928 (há controvérsias quanto à data), e nunca mais retornou. Um trágico evento ofuscou sua volta para casa. Assim que seu navio aportou em Cap Ancona, um hidroavião com seis cientistas brasileiros que se destinavam às comemorações acidentou-se. Todos a bordo morreram. Santos-Dumont pediu que todos os eventos e cerimônias previstos fossem cancelados. Esse incidente intensificou a angústia de Santos-Dumont. 

Ele construiu uma pequena casa perto do Rio de Janeiro, na cidade de Petrópolis, e encheu-a de “dispositivos mecânicos imaginativos e práticos”. Depois de alguns anos, Santos-Dumont, seriamente enfermo e desesperançado quanto à sua saúde e à maneira como a aviação estava sendo usada na guerra, cometeu suicídio enforcando-se na cidade de Guarujá, em São Paulo. A data foi 23 de julho de 1932.

Por fim, Santos-Dumont se dispunha a concordar que tinha sido o primeiro a voar na Europa e os Wright os primeiros a voar na América. Ele foi admitido na “Sociedade Primeiro Vôo” em 1981 como: “Primeiro a voar uma máquina mais pesada que o ar na Europa em 1906”.

As contribuições mais importantes de Santos-Dumont no campo da aviação foram: (1) uso eficaz de ailerons nas extremidades das asas, (2) trabalho por melhoramentos na razão peso-potência dos motores, (3) influência no projeto de muitos aviões que se seguiram e (4) outros refinamentos nas técnicas de construção de aeronaves. Ele era um entre muito poucos pioneiros da aviação que podiam reivindicar sucessos no trabalho com aparelhos tanto mais leves como mais pesados que o ar.

Apesar da controvérsia entre Santos-Dumont e os irmãos Wright, havia (e ainda há) nos Estados Unidos, uma grande admiração pelas conquistas de Santos-Dumont.