Réplica
do "14 Bis" de Santos-Dumont em São Paulo, Brasil Fotos
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ALBERTO SANTOS-DUMONT: O PAI DA
AVIAÇÃO
por Stan Griffin
Traduzido para o português por Patricia e Walter de Castro
Mas assim que você sai dos Estados Unidos, a chance de
receber a mesma resposta diminui drasticamente. Outros nomes surgirão nos países
europeus e mesmo nos da América Latina. Especialmente no Brasil, onde a
maioria dos jovens dirão: "Alberto Santos-Dumont", um nome
completamente desconhecido da maioria dos americanos.
Na alvorada do século XX, contudo, muita gente achava que
Santos-Dumont era a pessoa mais famosa do mundo! Ele visitou os Estados Unidos
em 1904 e veio à Casa Branca para um encontro com o Presidente Theodoro
Roosevelt. Ele construiu e dirigiu: diversos balões, o primeiro dirigível prático
e motorizou aviões mais pesados que o ar. Ganhou um sem-número de prêmios
e tornou-se amigo de milionários e da realeza.
Alberto Santos-Dumont
considerava-se francês, mas nasceu a 20 de julho de 1873 na pequena cidade de
Cabangu, no Estado de Minas Gerais. Era o mais jovem de onze filhos criados
numa fazenda de café em São Paulo. Seu pai era um engenheiro que fez sucesso
como fazendeiro. E juntamente com o sucesso, veio a riqueza. Ele ficou conhecido
como o "rei do café do Brasil".
Não demorou muito e ele descobriu os
balões. Contratou um
piloto para levá-lo ao ar e aprendeu a voar. E começou até a projetá-los,
voando seu "Brésil" em 1898.
Em
seguida, se interessou pelos balões que se podiam
dirigir (chamados dirigíveis), os quais podiam avançar no ar e não apenas se
mover para onde os ventos os levassem. Por volta de 1901, Santos-Dumont
conseguiu ganhar um prêmio de 100 francos por voar em seu dirigível "Número
6" através de Paris em menos de meia hora. As duas primeiras tentativas
terminaram em espetaculares acidentes. Mas nem um pouco sujeito a ser
desencorajado por tais resultados, Santos tentou novamente e, desta vez, com
sucesso. Doou o dinheiro de seu prêmio para obras de caridade e para os voluntários
que o ajudaram a preparar sua aeronave.
Ele era conhecido por "Santos" pelos amigos e
associados em Paris. Ele não era de grande estatura, pesava cerca de 41
quilos e tinha 1,53m de altura. Santos com freqüência era visto com seu característico
terno de risca-de-giz e seu chapéu Panamá desabado.
As atenções desse brasileiro que "voava alto" se
voltaram então para os aparelhos mais pesados que o ar. Em 1905, ele
já havia projetado o seu primeiro desses equipamentos. No ano seguinte (23 de
outubro de 1906) Alberto pilotou seu "14 Bis" diante de uma grande
multidão de testemunhas por uma distância de 60 metros a uma altura de 1,80 a
3,00 metros.
“Este evento bem-documentado foi o primeiro vôo
verificado pelo Aero-Club De France de uma máquina motorizada e mais pesada que
o ar na Europa e a primeira demonstração pública no mundo de um equipamento
que decolou de uma pista aérea comum com um trem de pouso não removível ... por
sua própria força (auto-propelido) ... em dia de tempo calmo, resolvendo
oficialmente o problema de uma máquina mais pesada que o ar que decola do chão
por seus próprios meios.”
Vinte dias mais
tarde, Santos-Dumont estabeleceu o “...
primeiro recorde mundial em aviação ...”, voando 220 metros em menos de 22
segundos. Ambos os eventos aconteceram ANTES que os irmãos Wright fizessem
quaisquer vôos PÚBLICOS.
Seu
Aparelho Voador Wright, de 1905, foi o “... primeiro aeroplano prático...capaz
de voar várias milhas de uma só vez, fazer manobras rápidas e aterrissar
sob total controle do piloto”.
A
posição oficial do governo brasileiro, naturalmente, é a de que
Santos-Dumont deve ser considerado como o “Número Um”. Os que assim pensam
citam os seguintes argumentos:
(1)
A notícia do vôo do “14 Bis” de Santos-Dumont foi antecipadamente
publicada por toda Paris, e assim foi testemunhada por grandes multidões,
que viram em primeira-mão o resultado do trabalho de Santos-Dumont.
Por
outro lado, os Wright tendiam a fazer seus testes em locais afastados, com
apenas alguns espectadores. Havia somente cinco pessoas na Carolina do Norte
presentes ao seu primeiro vôo, nenhuma delas podendo ser considerada uma “autoridade”.
Orville e Wilbur Wright foram “muito rigorosos na proteção de suas
propriedades intelectuais”, com medo de que outros inventores pudessem roubar
suas idéias.
(2)
O “14 Bis” decolou por seus próprios meios e de uma pista comum.
A
máquina dos Wright teve que ser lançada no ar do alto das dunas locais. (3) O
tempo em Paris estava bom, com ventos apenas leves.
Nas
encostas, por outro lado, os ventos eram de 43.5 km/h (27 mph). Na verdade, o
local foi escolhido por ter ventos quase constantes. Os críticos sustentam que
eles, assim, propiciaram à máquina, essa ajuda extra.
(4)
O trem de pouso do “14 Bis” era “parte integrante e não destacável” da
aeronave, duas qualidades que o aparelho dos Wright não tinha.
(5)
Documentos e fotografias feitos pelos partidários dos Wright foram
consideradas como “não confiáveis”. Relatórios de testemunhas da Carolina
do Norte foram recusados como “inconsistentes”. Alguns partidários de
Santos-Dumont chegaram a acusar os Wright de divulgar fotografias falsas.
Depois
que eles foram informados do sucesso dos Wright na Carolina do Norte, o
Aero-Club de France enviou uma carta ”exigindo” que eles viessem à
França e “comprovassem seu feito”. Não houve resposta. O Club
denunciou os Wright por “fraude”, como fizeram muitos da comunidade científica
Européia e alguns do público em geral.
Defensores
dos Wright insistiram que o Club tinha um conflito de interesse em reconhecer tão
rapidamente o vôo de Santos-Dumont porque eles foram desde o início patrocinadores
do aeronauta brasileiro e tinham um interesse pessoal em declará-lo “o
primeiro”.
O
avião de Santos-Dumont parecia “várias pipas tipo caixa reunidas ao
acaso”. De acordo com um observador americano, Santos-Dumont “...não tinha
meios de controlá-lo, a não ser deslocando seu peso ... o que era difícil
porque o piloto ficava num estreito cesto de vime”.
Alguns
partidários dos Wright quiseram fazer crer que Santos-Dumont valeu-se de seus
detalhes patenteados, usando-os no período entre os dois vôos. Havia também
outros progressos que poderiam ter ajudado Santos-Dumont na construção do
“14 Bis”.
Em
1909 ele desenhou um monoplano que se tornou o “precursor dos aviões leves
modernos”. O “Demoiselle
No. 19” (apelidado de “gafanhoto”) foi vendido aos milhares na Europa,
causando sensação a um preço de menos de 500 francos.
Santos-Dumont
continuou construindo e pilotando aviões até 1910, quando foi diagnosticado
com esclerose múltipla. Despediu toda a sua equipe, fechou sua oficina e logo
entrou em um período de severa depressão. Rumores surgiram acusando-o de ser
um espião alemão, fazendo com que queimasse todos os seus papéis, planos e
anotações, o que tornou impossível a pesquisa dos processos utilizados em
seus projetos.
Santos-Dumont
voltou para o Brasil em 1916 ou 1928 (há controvérsias quanto à data), e
nunca mais retornou. Um trágico evento ofuscou sua volta para casa. Assim que
seu navio aportou em Cap Ancona, um hidroavião com seis cientistas
brasileiros que se destinavam às comemorações acidentou-se. Todos a bordo
morreram. Santos-Dumont pediu que todos os eventos e cerimônias previstos
fossem cancelados. Esse incidente intensificou a angústia de Santos-Dumont.
Ele
construiu uma pequena casa perto do Rio de Janeiro, na cidade de Petrópolis, e
encheu-a de “dispositivos mecânicos imaginativos e práticos”. Depois de
alguns anos, Santos-Dumont, seriamente enfermo e desesperançado quanto à sua
saúde e à maneira como a aviação estava sendo usada na guerra, cometeu suicídio
enforcando-se na cidade de Guarujá, em São Paulo. A data foi 23 de julho de
1932.
Por
fim, Santos-Dumont se dispunha a concordar que tinha sido o primeiro a voar na
Europa e os Wright os primeiros a voar na América. Ele foi admitido na
“Sociedade Primeiro Vôo” em 1981 como: “Primeiro a voar uma máquina mais
pesada que o ar na Europa em 1906”.
As
contribuições mais importantes de Santos-Dumont no campo da aviação foram:
(1) uso eficaz de ailerons nas extremidades das asas, (2) trabalho por
melhoramentos na razão peso-potência dos motores, (3) influência no projeto
de muitos aviões que se seguiram e (4) outros refinamentos nas técnicas de
construção de aeronaves. Ele era um entre muito poucos pioneiros da aviação
que podiam reivindicar sucessos no trabalho com aparelhos tanto mais leves como
mais pesados que o ar.
Apesar da controvérsia entre Santos-Dumont e os irmãos Wright, havia (e ainda há) nos Estados Unidos, uma grande admiração pelas conquistas de Santos-Dumont.